
Alguns o classificam como o fim de uma era. Outros como o começo de uma nova. O ano de 1968 foi, antes de tudo, um divisor de águas. Hoje as opiniões sobre os acontecimentos daquele ano se dividem, entre os que vêem o passado com a utopia de que foi tudo maravilhoso, e os que o rejeitam radicalmente. Mas uma coisa é certa, o mundo não estava preparado para o que viria a seguir.
No livro "1968, O Ano que não Terminou" o jornalista Zuenir Ventura reconstitui os acontecimentos de 68 no Brasil. A quebra de tabus, os jovens heróis, a luta estudantil contra a ditadura. Eram reflexos de uma geração esclarecida que desafiava os padrões pré-estabelecidos, fosse na política ou no comportamento.
Uma das grandes diferenças de 68, entre o Brasil e outros países, como a França, era que nós tinhamos um inimigo concreto: a ditadura. A luta contra a censura movia os jovens para o que acreditavam ser a única solução: a revolução. Esta foi, porém, uma das grandes contradições da época. Os joven não conseguiram fazer a revolução política, mas acabaram fazendo uma revolução cultural.
A circulação das pílulas anticoncepcionais entre as jovens deu abertura para a chamado Revolução Sexual. Surgiram movimentos a favor das mulheres, dos negros, dos homossexuais. Hábitos, costumes e valores foram modificados. Em outras palavras, a geração de 68 deixava o seu legado, que era uma resposta à sociedade repressiva da época.
Quarenta anos depois, as pessoas perderam um pouco da esperança. A utopia ideológica acabou com a promulgação do Ato Institucional n°5. Pessoas que se inspiravam nas vitórias de Cuba e Vietnã se viram cercadas. Hoje, os jovens não se interessam pela política. O individualismo contribuiu para a falta de interesse pelas causas públicas. As idéias não se transformam mais em ações.
"Vão ser precisos anos e anos para se entender o que passou", disse o sociólogo Edgar Morin, que acompanhou as passeatas no Brasil e na França. Ele estava certo. Para a sociedade atual é difícil compreender como as causas de 68 conseguiram juntar jovens como Cesinha, um militante de 14 anos, e uma pessoa como Alceu de Amoroso Lima, de 76 anos. Sem dúvida, 1968 foi um ano de sintonia mundial. Unânime, em dizer que seus acontecimentos alteraram o comportamento social e cultural expressivamente.