domingo, 15 de junho de 2008

Cinema Marginal: A estética da antiestética


Um marco na história mundial, o ano de 1968 foi protagonista de uma série de revoluções sociais e culturais que se disseminaram pelo mundo. No Brasil surgiram vários movimentos artísticos, como o Tropicalismo, na música, e o Teatro Oficina, que contestavam o cerceamento político imposto pelo regime militar. Já no cinema, esse quadro político-cultural propiciou a criação do chamado Cinema Marginal. Era uma oposição ao Cinema Novo, que predominava no início dos anos 60.

O Cinema Novo era uma versão brasileira de estéticas cinematográficas surgidas após a Segunda Guerra Mundial, como a Nouvelle Vague francesa. Propunha a elaboração de filmes voltados à realidade brasileira, que discutissem política enfocando problemas sociais. Era contra o artificialismo das grandes produções da época, e se recusava a servir como mero entretenimento.

No início, sua temática se centrava no trabalhador rural e na miséria nordestina, como mostram os filmes “Vidas Secas”, de Nelson Pereira dos Santos, e “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha. Após o Golpe de 64, os filmes passaram a utilizar metáforas para criticar a ditadura e, ao mesmo tempo, driblar a censura. “Terra em Transe”, de Glauber Rocha, é um deles.

Com o fim do Cinema Novo, ao final dos anos 60, surgiu o Cinema Marginal. Tinha a intenção de alcançar o público de maneira mais direta, utilizando-se da situação do país e da má fase do cinema norte-americano. Questionava a política cinematográfica e seu modelo padrão. Era a favor da contracultura e da antiestética. Ao contrário do Cinema Novo, que idolatrava grandes nomes europeus, como Jean-Luc Goddard e François Truffaut, os marginais eram fãs de cineastas americanos, como Orson Welles e Alfred Hitchcock. Tinha como característica o uso de elementos estéticos urbanos, propagandas, romances, meios de comunicação em massa, entre outros, que mostravam o cinema em sua versão consumista.

Seus criadores tinham autonomia total para fazer filmes, razão pela qual o período também ficou conhecido como Boca de Lixo. A estética do lixo era, segundo autores, “o estilo mais apropriado para um país de terceiro mundo, na medida em que possibilita a transformação das sobras de um sistema internacional dominado pelo monopólio capitalista do primeiro mundo”. Ou seja, cada país tem sua forma de arte de acordo com sua economia.

Foi em 68 que o movimento marginal ganhou projeção. Vários filmes foram lançados, mas alguns não puderam entrar em cartaz devido à censura. Outros, porém, bateram recordes de público. Foi o caso de “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla, um marco no cinema brasileiro. O fim do movimento se deu com a tensão no início dos anos 70, que obrigou parte dos cineastas a ir para o exterior.

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