domingo, 15 de junho de 2008

"Dexter" e "Lost" - De acordo com a Jornada do Herói


As séries “Dexter” e “Lost” apresentam pontos fortes que se diferem do lugar comum em que as séries americanas se encontram. O primeiro ponto a ser observado seria a trajetória do herói, no começo da história. Geralmente, de acordo com a Jornada do Herói, ele é apresentado no mundo comum, onde recebe um chamado à aventura. Nestas séries, os primeiros capítulos se afastam do modelo padrão.

Na série “Dexter”, o protagonista, que dá nome a série, narra sua própria história. As primeiras cenas são impactantes. Mostram Dexter matando Mike Donovan, um serial killer, assassino de crianças. Desde pequeno Dexter tinha sede de sangue. Provavelmente por conta de um fato ocorrido na época anterior à sua adoção. Sabendo disso, Harry, seu pai adotivo, diz a ele que seus impulsos assassinos poderiam ser usados para o bem. Desde então Dexter faz justiça com as próprias mãos, punindo criminosos que escaparam da lei, com a morte.

A originalidade da história se baseia no fato do protagonista ser um anti-herói. Um serial killer que só mata serial killers, e ao mesmo tempo, uma figura carismática. A figura do antagonista é desconhecida. Ao final do primeiro episódio, Dexter recebe um chamado à aventura, vindo do assassino/antagonista. Essa é a motivação para o objetivo de Dexter: descobrir quem é o serial killer que drena o sangue de suas vítimas. E é também a motivação para os espectadores continuarem a assistir a série.

Já em “Lost”, Jack, o protagonista, acorda no meio de uma selva na primeira cena. Leva um momento para entender o que tinha acabado de acontecer. Na praia, um caos. O avião onde ele estava havia caído em uma ilha. Uma série de acontecimentos seguintes dá ao seriado um clima de tensão. O mistério paira no ar. O que torna a série estimulante para os seus espectadores. O enigma que se forma desde o primeiro episódio, que envolve todos os passageiros do avião e a própria ilha, intriga. E faz que com que ninguém deixe de assistir os capítulos seguintes. Para não perder o fio da meada.

Com enredos originais e mistérios instigantes, essas duas séries se afastam dos clichês cansativos tão característicos da indústria hollywoodiana. Apesar de apresentarem pontos básicos que todas as atuais produções utilizam, como os estágios da Jornada do Herói e os arquétipos dos personagens, “Dexter” e “Lost” rompem alguns paradigmas que não fazem a menor falta. Para o deleite dos amantes de séries.

Cinema Marginal: A estética da antiestética


Um marco na história mundial, o ano de 1968 foi protagonista de uma série de revoluções sociais e culturais que se disseminaram pelo mundo. No Brasil surgiram vários movimentos artísticos, como o Tropicalismo, na música, e o Teatro Oficina, que contestavam o cerceamento político imposto pelo regime militar. Já no cinema, esse quadro político-cultural propiciou a criação do chamado Cinema Marginal. Era uma oposição ao Cinema Novo, que predominava no início dos anos 60.

O Cinema Novo era uma versão brasileira de estéticas cinematográficas surgidas após a Segunda Guerra Mundial, como a Nouvelle Vague francesa. Propunha a elaboração de filmes voltados à realidade brasileira, que discutissem política enfocando problemas sociais. Era contra o artificialismo das grandes produções da época, e se recusava a servir como mero entretenimento.

No início, sua temática se centrava no trabalhador rural e na miséria nordestina, como mostram os filmes “Vidas Secas”, de Nelson Pereira dos Santos, e “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha. Após o Golpe de 64, os filmes passaram a utilizar metáforas para criticar a ditadura e, ao mesmo tempo, driblar a censura. “Terra em Transe”, de Glauber Rocha, é um deles.

Com o fim do Cinema Novo, ao final dos anos 60, surgiu o Cinema Marginal. Tinha a intenção de alcançar o público de maneira mais direta, utilizando-se da situação do país e da má fase do cinema norte-americano. Questionava a política cinematográfica e seu modelo padrão. Era a favor da contracultura e da antiestética. Ao contrário do Cinema Novo, que idolatrava grandes nomes europeus, como Jean-Luc Goddard e François Truffaut, os marginais eram fãs de cineastas americanos, como Orson Welles e Alfred Hitchcock. Tinha como característica o uso de elementos estéticos urbanos, propagandas, romances, meios de comunicação em massa, entre outros, que mostravam o cinema em sua versão consumista.

Seus criadores tinham autonomia total para fazer filmes, razão pela qual o período também ficou conhecido como Boca de Lixo. A estética do lixo era, segundo autores, “o estilo mais apropriado para um país de terceiro mundo, na medida em que possibilita a transformação das sobras de um sistema internacional dominado pelo monopólio capitalista do primeiro mundo”. Ou seja, cada país tem sua forma de arte de acordo com sua economia.

Foi em 68 que o movimento marginal ganhou projeção. Vários filmes foram lançados, mas alguns não puderam entrar em cartaz devido à censura. Outros, porém, bateram recordes de público. Foi o caso de “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla, um marco no cinema brasileiro. O fim do movimento se deu com a tensão no início dos anos 70, que obrigou parte dos cineastas a ir para o exterior.